terça-feira, 20 de março de 2018

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Exposição "Para que a Memória não se Apague... - Memorial do Holocausto"

„Primeiro levaram os comunistas, Mas não falei, por não ser comunista. Depois, perseguiram os judeus, Nada disse então, por não ser judeu, Em seguida, castigaram os sindicalistas Decidi não falar, porque não sou sindicalista. Mais tarde, foi a vez dos católicos, Também me calei, por ser protestante. Então, um dia, vieram buscar-me. Nessa altura, já não restava nenhuma voz, Que, em meu nome, se fizesse ouvir.“

Martin Niemöller  1892 – 1984


No dia 27 de Janeiro comemoramos o Dia Internacional das Vitimas do Holocausto. Este ano resolvemos celebrar esta data com a Exposição “Para que a memória não se apague… - Memorial do Holocausto” que estará patente na Biblioteca da nossa escola (Escola Secundária de Valbom).
Comemorar esta data, lembrar os horrores do Holocausto e, sobretudo sensibilizar para que o mesmo não se volte a repetir parece-nos ser o nosso dever ético como cidadãos e docentes.
O desconhecimento destes factos, dos milhões de mortos e das enormes atrocidades cometidas fazem com que deixemos, a cada momento, ressurgir extremismos que se servem desse desconhecimento para chegar cada vez a um maior número de pessoas. Não podemos deixar de aprender com os erros do passado.
Pretendemos com esta exposição evocar todas as vítimas e não apenas as de crença judaica, porque o Holocausto marcou a história de vítimas de todos os credos e crenças, perseguiu e dizimou os mais fracos e sem voz.
Educar hoje não pode dissociar-se do conhecimento histórico, das memórias, da aprendizagem com o passado. Se queremos hoje formar homens e mulheres íntegros, preocupados com o seu semelhante, atentos e interventivos nas situações de injustiça temos de valorizar o ensino da História como uma “arma” para combater o desconhecimento e, consequentemente as desigualdades e injustiças.
Não encontraremos nesta exposição apenas exemplos de atrocidades cometidas, mas também histórias de homens e mulheres que arriscaram a sua própria vida em prol do seu semelhante, sem olhar a credos ou cores. Homens, como o português Aristides de Sousa Mendes, são dignos de serem evocados como heróis num tempo que parecia esquecer os mais básicos direitos da dignidade humana.
Durante esta exposição será criado um Memorial das Vitimas do Holocausto e, de uma forma simbólica, todos os elementos da comunidade escolar irão acender uma vela como homenagem, não só às vítimas inocentes de todos estes horrores mas também em homenagem a todos que disseram “não” a esta “loucura colectiva” e ajudaram a salvar as gerações que hoje vivem e nos contam esta história. 
Na semana de 29/01 a 02/02, os alunos poderão igualmente visualizar na Biblioteca vários filmes sobre esta temática.
Porque “salvar uma vida é salvar a humanidade inteira”… como refere o Talmud, não deixaremos que a memória se apague e que as vozes que lutaram e lutam contra a indiferença sejam esquecidas.

Helena Peixoto – Docente do grupo 400 e Coordenadora da Exposição

(Janeiro de 2018)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

As crianças e o Holocausto

AS CRIANÇAS DURANTE O HOLOCAUSTO

As crianças eram especialmente vulneráveis durante a época do Holocausto. Os nazistas defendiam o assassinato de crianças de grupos “indesejáveis” ou “perigosos”, de acordo com a sua visão ideológica, tanto como parte da “luta racial” quanto como medidas de segurança preventiva. Os alemães e seus colaboradores matavam crianças por estas duas razões e também como retaliação aos ataques, reais ou inventados, dos partisans.
Os alemães e seus colaboradores assassinaram cerca de 1,5 milhões de crianças, sendo um milhão delas judias, e dezenas de milhares de ciganos Romas, além de crianças alemãs com deficiências físicas ou mentais que viviam em instituições, crianças polonesas, e crianças que moravam na parte ocupada da União Soviética. As chances de sobrevivência imediata dos adolescentes, judeus e de não-judeu, entre 13 e 18 anos eram maiores, já que podiam ser enviados para o trabalho escravo.
O destino das crianças, judias e não-judias, pode ser classificado da seguinte maneira: (1) crianças assassinadas assim que chegavam aos campos de extermínio; 2) crianças mortas assim que nasciam ou mortas nas instituições onde viviam; 3) crianças que nasciam nos guetos e campos, mas que sobreviviam porque os prisioneiros as escondiam; 4) crianças, normalmente maiores de 12 anos, que eram usadas como escravas ou em experiências “médicas”; e 5) crianças que morriam devido às represálias nazistas nas chamadas operações anti-partisans.
Nos guetos, as crianças judias morriam de inanição e por exposição aos elementos. As autoridades alemãs eram indiferentes a esses assassinatos em massa, pois consideravam a maioria das crianças dos guetos improdutivas e, portanto, “consumidores inúteis de comida”. Quando as crianças eram muito jovens para serem mandadas para o trabalho forçado, as autoridades alemãs as selecionavam, assim como aos mais velhos, doentes e deficientes, para serem os primeiros judeus a serem deportados para os campos de extermínio, ou então eram levadas até as covas de destruição em massa como as primeiras vítimas a serem metralhadas.
Quando as crianças chegavam em Auschwitz-Birkenau, e em outros campos de extermínio, as autoridades nos campos enviavam a maioria delas diretamente para as câmaras de gás. As forças das SS e da polícia colaboracionista, na Polônia e nas áreas da União Soviética que estavam ocupadas pela Alemanha, friamente atiravam nas milhares de crianças colocadas à beira das enormes sepulturas. Infelizmente, em algumas ocasiões, as primeiras cotas de crianças a serem levadas para os centros-de-extermínio, ou para serem vítimas de operações de fuzilamento, eram o resultado da seleção efetuada pelos presidentes dos Conselhos Judaicos, conhecidos como Judenrat, em decisões controversas e difíceis, pressionadas pelos nazistas. A decisão tomada pelo Judenrat de Lodz para deportar crianças para o campo de extermínio de Chelmno, em setembro de 1942, é um exemplo das escolhas trágicas feitas por adultos que tinham que atender as exigências impostas pelos alemães. Janusz Korczak, diretor de um orfanato no Gueto de Varsóvia, porém, recusou-se a abandonar as crianças sob seu cuidado, e quando elas foram selecionadas para a deportação ele as acompanhou até o campo de extermínio de Treblinka, entrando com elas nas câmaras de gás, onde também foi assassinado.
Crianças não-judias, pertencentes a outros grupos perseguidos, também não foram poupadas, entre elas as crianças ciganas Romaassassinadas no campo de concentração de Auschwitz. Cinco a sete mil crianças alemãs também foram mortas, vítimas do programa de “eutanásia” nazista; e muitas outras foram exterminadas em represália aos partisans, incluindo a maioria das crianças da cidade tcheca de Lídice, e dos povoados da União Soviética ocupada, que eram assassinadas junto com seus pais.
As autoridades alemãs também encarceraram um grande número de crianças em campos de concentração e nos de trânsito. Médicos e pesquisadores “médicos” das SS as utilizavam, principalmente aos gêmeos, para experiências médicas cruéis que resultavam na morte destas crianças. As chefias dos campos obrigavam os adolescentes, principalmente judeus, a trabalho forçado nos campos de concentração, onde muitos morriam. Os nazistas mantinham outras crianças sob condições aterrorizantes nos campos de trânsito, como ocorreu com Anne Frank e sua irmã em Bergen-Belsen, e também com crianças não-judias, órfãs de pais assassinados pelas unidades militares e policiais nas chamadas operações anti-partisans. Alguns destes órfãos eram mantidos temporariamente no campo de concentração de Lublin/Majdanek, bem como em outros campos de detenção.
Em suas tentativas de “salvar a pureza do sangue ariano” os “especialistas raciais” das SS ordenaram que centenas de crianças polonesas e soviéticas, com características “arianas”, fossem raptadas e levadas para o Reich para que fossem adotadas por famílias alemãs racialmente corretas. Embora argumentassem que a base dessas decisões era “científica”, bastava elas terem o cabelo louro, olhos azuis, e pele clara, para merecerem a oportunidade de serem “germanizadas”. Por outro lado, quando as mulheres polonesas e soviéticas que haviam sido deportadas para a Alemanha para trabalho forçado ficavam grávidas de alemães, normalmente através de estupros, elas eram forçadas a abortar ou a dar à luz em condições que garantissem a morte do recém-nascido caso os “especialistas raciais" determinassem que aquela criança não era suficientemente ariana.
Apesar de sua grande vulnerabilidade, muitas crianças conseguiram meios de sobreviver roubando e trocando o produto de suas atividades por comida e medicamentos para levar para dentro dos guetos. Os jovens que participavam dos movimentos juvenisajudavam em atividades secretas da resistência, e muitas crianças fugiam, sozinhas ou com seus pais e familiares, para acampamentos organizados por partisans judeus.
Entre 1938 e 1940, o Kindertransport, Transporte das Crianças, era o nome informal de um movimento de resgate que levou milhares de crianças judias, sem seus pais, para locais seguros na Grã-Bretanha, longe da Alemanha nazista e dos territórios por ela ocupados. Alguns não-judeus esconderam crianças judias, e algumas vezes, como no caso de Anne Frank, escondiam também outros membros da família. Na França, de 1942 a 1944, quase toda a população protestante da cidade de Le Chambon-sur-Lignon, bem como padres, freiras e católicos laicos deram abrigo a crianças judias, mantendo-as longe dos olhos dos nazistas. Na Itália e na Bélgica muitas crianças conseguiram salvar-se por terem sido escondidas nestes tipos de esconderijo.
Após a rendição da Alemanha nazista e o fim da Segunda Guerra Mundial, os refugiados e pessoas deslocadas pela guerra passaram a procurar seus filhos por toda a Europa. Havia também milhares de órfãos nos campos para refugiados. Um grande número de crianças judias foi levado do leste europeu para áreas a oeste da Alemanha ocupada, em um movimento de êxodo em massa denominado Brihah, com a ajuda da organização Youth Aliyah, Imigração Jovem. Estas crianças foram posteriormente levadas para o Yishuv, nome dado à área dos assentamentos judaicos dentro do Mandato Britânico na Palestina, onde em 14 de maio de 1948 o Estado de Israel proclamou sua independência.

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